domingo, 25 de fevereiro de 2007

Um humilde tributo ao grande Zeca Afonso

É verdade que vem atrasado...


No entanto, essa circunstância não inviabiliza que este pequeno museu de fragrâncias e acordes, transpirados de uma arte intemporal, perca o seu sentido e o ímpeto de uma mensagem.


A sua música impulsiona em mim, uma miscelânea de sentimentos. Não porque recupero o passado, ou os pulsares específicos que o caracterizaram, mas sim porque as suas letras, um timbre característico de voz, e a sua emotividade me resgatam a alma.


Resgatam-me a alma da apatia, da estagnação traduzida em milhentos respirares afundados no vazio. A sua voz e beleza acústica impulsionam-me a agir, a existir perante mim e perante o mundo. Dizem-me que necessito de aproveitar um bilhete que recebi, tatuado do meu crescimento e desenvolvimento.



Afirmam que outrora fui menino e criança, desenrolando fios de inocência e de brincadeira. E que agora consigo compreender outras coisas. E mais que as compreender, posso agir em conformidade com aquilo que defendo, que acredito. A voz e a participação são criações do ser, da paixão, do valor endereçado ao que somos e ao que podemos dar.



Interpreto a voz de Zeca Afonso como esse ímpeto, essa vontade superior de participar, de existir harmoniosamente perante o mundo e perante si próprio. Representação de uma criatividade, de um amor ao seu povo e ao seu país. De uma paixão arrebatadora pela liberdade, pela democracia. Um abraçar constante dos ideais de igualdade entre todos, de energia reaccionária capaz de mover o comum para um caleidoscópio de sentimentos e energias.



Quando ouço Zeca Afonso lembro-me que já não sou menino. Não serei também adulto completo, conhecedor infindável das tristezas e injustiças vigentes neste mundo, neste Portugal. Mas identifico vozes, focos de estagnação e opressão. E quero participar. Não nela, mas contra ela.



A maior dádiva que um artista pode receber, sentir ou abraçar, é a de que a sua mensagem é intemporal. Quando assim acontece, ela só poderá nascer da sinceridade, do amor, da eloquência metafísica e espiritual, e do espírito nobre e fraterno.



Deixo aqui quatro músicas deste homem único, que eternamente cantará em mim.



São elas Grândola Vila Morena ( retirada do álbum Ao Vivo, no Coliseu dos Recreios de Lisboa, se não estou em erro ), Utopia , A nau de António Faria e Canção da Paciência ( todas resultantes da gravação do seu penúltimo álbum de originais, " Como Se Fora Seu Filho , datado de 1983,


Presto-lhe então o meu tributo, humilde, mas sincero, e inundado de emoção.















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